Saúde mental no esporte: o diferencial invisível na performance de atletas ![]() |
Treinar só o corpo não basta: a mente também decide o jogo. É isso o que defende a psicanalista Tássia Borges, que explica como corpo e mente caminham juntos e por que o autoconhecimento pode ser a chave para resultados consistentes no esporte |
No esporte, não basta ter preparo físico. A mente também precisa estar em equilíbrio para que o desempenho seja pleno. É isso que ressalta a psicanalista Tássia Borges, Mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP, que há mais de um ano acompanha atletas de boxe e artes marciais ao lado do Professor Faísca (Antônio Gomes Filho), na cidade de São Paulo. “Corpo e mente andam juntos. Não adianta investir apenas no físico e deixar o emocional de lado. O desequilíbrio psíquico pode comprometer o rendimento e até sabotar carreiras esportivas”, afirma Tássia. Segundo a psicanalista, fatores como a competitividade, pressões externas (familiares, sociais ou de patrocinadores) e, principalmente, a falta de autoconhecimento estão entre os principais desafios emocionais enfrentados por atletas amadores e profissionais. “Muitos conhecem profundamente seu corpo, mas pouco sabem sobre o próprio emocional. Esse ponto cego pode ser o maior inimigo dentro e fora do ringue, das quadras e dos campos”, explica. Para ela, o autoconhecimento é uma ferramenta essencial tanto na prevenção de crises quanto na potencialização dos resultados. “Quando o atleta identifica suas fragilidades emocionais, consegue antecipar situações de risco, como o overtraining causado por ansiedade ou excesso de cobrança. É um recurso que protege a saúde mental e amplia o desempenho”, diz. A especialista lembra ainda que os sinais de desequilíbrio nem sempre aparecem de forma explícita. Problemas de sono, mudanças na alimentação e até a discrepância entre a percepção do atleta e a avaliação da equipe técnica podem indicar que algo não vai bem. “Esses sinais são convites para buscar suporte especializado. Quanto antes o cuidado com a saúde mental for integrado à rotina, mais sólido será o caminho da boa performance”, reforça. Mas como a psicanálise pode contribuir com os atletas? Tássia explica: “A psicanálise vai além do visível. Ela investiga a história de vida do atleta, os fantasmas inconscientes e os sabotadores internos que podem travar o desempenho. Esse mergulho no inconsciente ajuda a lidar com várias situações, entre elas a ansiedade de competição, derrotas e transições de carreira, que são bastante comuns em esportes que têm aposentadoria precoce”. A seguir, Tássia Borges compartilha 5 dicas para fortalecer a saúde mental e turbinar a performance esportiva: 1) Invista em autoconhecimento: entender seus pontos fortes e fracos ajuda a prevenir crises e potencializar resultados. 2) Reconheça os sinais de alerta: alterações no sono, alimentação e percepção distorcida do próprio desempenho merecem atenção imediata. 3) Não negligencie a mente: treinar o corpo sem cuidar do emocional pode gerar desequilíbrios que comprometem a carreira. 4) Busque suporte especializado: psicanálise, terapia e acompanhamento multidisciplinar fortalecem a saúde mental e protegem a trajetória esportiva. 5) Encare derrotas como aprendizado: compreender as próprias limitações reduz a ansiedade e abre espaço para evoluções constantes. Sobre Tássia Borges Tássia Borges é especialista em assuntos relacionados à saúde mental e o psiquismo – entre eles ansiedade, narcisismo, questões geracionais, de relacionamento, luto, solidão e entraves psíquicos que podem impedir atletas de atingir altas performances. Mestre em Psicologia Clínica pelo Núcleo de Método Psicanalítico e Formações da Cultura da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e Bacharel em Letras pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP), ela trabalha com educação e linguagem há mais de 20 anos. Fundou e dirige o Instituto Kleiniano de Psicanálise, cuja missão é compartilhar de modo responsável e especializado os conhecimentos técnico-teóricos da psicanalista austríaca Melanie Klein (1882-1960) bem como de autores que dialogam com seu pensamento. Há quase 15 anos, Tássia atua como psicanalista, supervisora e professora não só no IKP, mas em diversas outras escolas de psicanálise em São Paulo e outros estados. Possui formação em psicanálise freudiana e conhecimento das escolas inglesa e francesa. É coordenadora de Psicanálise do GEPECH – Grupo de Estudos e Pesquisa em Comportamento Humano – que tem por objetivo desenvolver conhecimento e pesquisa a partir de estudos transdisciplinares envolvendo neurociência e psicanálise, sobretudo neo-kleiniana. |