Cegueira não é sinônimo de incapacidade


Muitos portadores de limitações visuais são ativos e
conquistaram o mundo com seus talentos e habilidades

Por redação: Carina Gonçalves

Muitos deficientes visuais são vistos com certo preconceito pela sociedade e, até, desrespeitados em seus direitos estabelecidos pela LBI (Lei Brasileira de Inclusão). Vemos no cotidiano falta de sinalização em calçadas, falta de acessibilidade em locais públicos e privados com placas em braile que indicam informações sobre a presença de escadas, elevadores e obstáculos diversos. Desta maneira, é possível evitar acidentes, orientar e alertar pessoas de baixa visão ou totalmente cegas sobre os riscos à saúde e suas vidas.

Mas para Ari Protázio, cego de nascença, a vida o ensinou a ser mais forte para seguir em frente, buscar a realização de seus sonhos e colocar em prática todos os seus projetos. Tanto que sua deficiência visual nunca foi obstáculo para nada e, hoje, ele é pianista e cantor, atua como tecladista, produtor musical, técnico de áudio em seu próprio estúdio de gravação, é Youtuber, palestrante, escritor e consultor de acessibilidade também. Parece muita coisa? Talvez para quem não busca por seus sonhos sim, mas para ele ainda é pouco.

Ativo profissionalmente desde os 16 anos de idade, iniciou suas experiências como demonstrador de pianos em uma loja de instrumentos musicais, que lhe garantiu ter contato com diversos músicos como o sertanejo Donizete e Benito Di Paula para tocar em seus shows. Agora, com o advento Covid-19, suas apresentações e palestras ao vivo, com plateia, estão paradas. E sua maior ocupação está ligada às gravações para o seu canal no YouTube, que o mantem em contato com o seu público e amigos.  

Quando perguntado sobre os maiores desafios que enfrenta no seu dia a dia, ele é enfático ao dizer que não é a ausência de visão, mas a desconstrução de preconceitos que acercam as pessoas com limitações visuais, pois, é muito comum serem pré-julgados como inválidos ou dependentes. “É equivocada essa ideia, somos iguais à todos, cegueira não nos define como pessoas, somos pessoas capazes, com talentos e dificuldades como qualquer outra, apenas temos uma limitação. Se tivermos acessibilidade adequada, não temos como nos sentir vulneráveis nunca!”, comenta Protázio.

E com a epidemia, o distanciamento social, o músico tem saído pouco de casa, apenas quando muito necessário, sempre ao lado da esposa, sua companheira e amiga. “Se eu precisar sair sozinho, talvez encontre resistência de algumas pessoas em ajudar por receio de contaminação do Covid-19, pois o toque é necessário e é, também, o maior meio de contágio. Outros deficientes visuais que não possuem ajuda de parentes e amigos devem sofrer mais apuros na rua. Agora, mais do que nunca, creio que o contato e a relação entre as pessoas sofreram muito com tudo o que acontece, pois só podemos nos falar por meio de celulares e redes sociais”, lamenta.

Ele comenta que os programas de TV e os telejornais deveriam se preocupar em ter leitura de telefones e outros dados que são apresentados em gráficos, por exemplo. “Quando estou acompanhado da minha esposa, eu recebo estas informações, mas quando não, fico perdido até para assistir novelas e filmes”, ressalta. Em relação às políticas públicas, Ari lembra que existem leis que deveriam facilitar a vida dos deficientes visuais, mas não são respeitadas e deveriam contribuir, inclusive para o momento atual.

Apaixonado pela vida, mesmo diante deste cenário triste para o mundo, o músico diz que raramente sentiu dificuldades por ser cego, apenas se chateou algumas vezes por ser ignorado em situações que alguns atendentes de serviços médicos se dirigiram aos seus acompanhantes, em vez de falar diretamente com ele, paciente na ocasião. Fora estes episódios, ele espera que as pessoas compreendam o que realmente tem valor na vida, após a pandemia. “Não devemos ignorar o outro por ser diferente e tão pouco pré-julgar por quaisquer limitações”, finaliza.


Sobre o entrevistado: Ari Protázio é pianista e cantor, atua como tecladista, produtor musical, técnico de áudio em seu próprio estúdio de gravação, Youtuber, palestrante, escritor e consultor de Acessibilidade. Para contratar suas palestras, apresentações e ou comprar seu livro, acesse: https://ariprotazio.com.br/