Autistas x Confinamento


Por Carina Gonçalves 

O isolamento social é fundamental para desacelerar o número de pessoas contaminadas pelo Covid-19 (Coronavírus) e, como consequência, além das restrições de ir e vir, muitas famílias enfrentam dificuldades para lidarem com a rotina de crianças autistas, também conhecidas como portadoras de Transtorno do Espectro Autista (TEA). Isto porque, muitas, apresentam diferentes graus de interação social e padrões repetitivos, interesses exagerados por algum assunto ou comprometimento de comunicação, incluindo a fala. Portanto, para eles, a alteração na rotina diária pode ser estressante e comprometer a convivência com os demais que estão em “confinamento” conjunto.

Segundo Janaína Spolidorio, especialista em educação, o isolamento devido à pandemia que estamos vivendo requer mudanças na rotina familiar, especialmente para crianças com autismo. “É importante saber lidar com todas as questões que envolvem o universo do autista, pois eles percebem tudo o que acontece ao seu redor e, muitas vezes, não transparecem nada devido a sua condição ou limitação, falta de interesse e até mesmo por facilidade de se manterem isolados (no próprio universo) e não quererem interagir, o que não significa que desconhecem os fatos”.   

A rotina é comum para os autistas porque eles possuem um alto nível de pensamento, de abstração, que dificilmente são percebidos por outras pessoas. Deste modo, cabe à família notar as necessidades de permanência ou mudança de rotina ou dinâmica familiar de acordo com elas. “Quando a criança autista está em uma rotina, se dedica aos seus pensamentos e, portanto, com comportamento mais calmo. No caso de serem interrompidos, tendem a apresentar desequilíbrio emocional”, comenta Janaína.

Para evitar momentos difíceis, a conversa sobre o que está acontecendo é a melhor saída para lidar com o autista. “De início, a paciência na implementação da nova rotina, a de isolamento, é a melhor opção. Os autistas funcionam sim melhor com rotinas, porque são previsíveis e, desta forma, como será preciso alterar, muitos irão estranhar e ser até bem inflexíveis nesta mudança. Mas, com a paciência no começo, contudo, dos pais manterem a nova rotina durante dois ou três dias, mesmo com possíveis desequilíbrios da criança, em pouco tempo o autista irá se adequar e ficar mais tranquilo”, comenta Janaína.

Para que todos convivam em harmonia – com ou sem crianças autistas – durante as restrições sociais é necessário o uso do bom senso, do afeto e da solidariedade mútua. “Neste período, é bacana que os pais fiquem atentos para a higiene e cuidados pessoais de seus filhos, pois alguns deles possuem autonomia e outros não para atividades simples. Também, é importante a demonstração de afeto com gestos, palavras e ações sempre que possível, pois os autistas percebem os atos de carinho de seus familiares, mesmo que não gostem de ser tocados. Desta maneira, a convivência será melhor e pode ser fortalecida”, finaliza.

Entenda melhor:
O autismo ou Transtorno do Espectro Autista (TEA) é caracterizado como um distúrbio de desenvolvimento, cujo afeta a capacidade da pessoa se comunicar e interagir com outras. Faz parte de um espectro de condições que limitam as interações sociais, comunicação verbal (fala) e não verbal (gestos), habilidades e comportamentos, agindo como uma desordem no desenvolvimento cerebral.

Segundo o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V), o diagnóstico de autismo é agrupado a síndrome de asperger, ao transtorno generalizado do desenvolvimento não-especificado (PDD-NOS) e ao transtorno desintegrativo da infância, em diferentes graus – leve, com alta funcionalidade, inteligência acima da média como, também, relacionados à casos de baixa funcionalidade (deficiência intelectual).

Os primeiros sintomas tendem a ser apresentados nos primeiros sintomas entre o primeiro e terceiro ano de vida da criança, cujo desenvolvimento físico ocorre normalmente. No entanto, os autistas vivem em um mundo isolado e particular, sem firmar relações sociais e afetivas, com diferentes níveis do distúrbio do qual vão precisar de tratamento e acompanhamento médico ao longo de suas vidas.

As causas do autismo ainda não são definidas segundos estudos científicos, porém, podem estar relacionadas à predisposição genética e problemas durante a gestação. Os sintomas são percebidos entre um e três anos de idade, mas muitos pais não percebem e só buscam ajuda de especialistas quando a criança apresenta alguma regressão no comportamento.  O diagnóstico poderá ser atestado por meio de avaliações de pediatras e neurologistas e, ainda, se necessário, a realização de testes criteriosos do Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais, da Associação Americana de Psiquiatria. A análise final de autismo só será atestada se a criança apresentar pelo menos seis sintomas, dentre todos os clássicos do transtorno que estão entre:

- Ser retraído, não faz amizades e pode tratar as pessoas como se fossem objetos; ou
- É hiperativo, com acessos de raiva (moderado e intenso);
- Não consegue desenvolver e manter conversas sociais, podendo demonstrar falta de empatia, prefere fica só;
- Apresenta dificuldade de fala ou não a desenvolve; se comunica por meio de gestos no lugar de palavras;
- Repete palavras e ou trechos de frases ouvidas antes (em comerciais, músicas);
- Apresenta dificuldades de atenção, para brincar como, por exemplo, de faz de conta, jogos coletivos;
- Apresenta repetidos movimentos e ou comportamentos;
- Tem maior sensibilidade na visão, audição, tato, olfato e paladar;
- Pode ter apego anormal à alguns objetos;
- Apresenta alterações emocionais extremas quando ocorrem mudanças em sua rotina;
- Pode fazer uso de rimas sem coerência;
- Pode ter a visão, audição, tato, olfato ou paladar ampliados ou diminuídos; entre outros sintomas.

É importante os pais manterem as consultas de rotina para que os especialistas possam acompanhar o crescimento e desenvolvimento das crianças e se identificarem algo diferente do normal, possam recomendar outros profissionais para uma avaliação.

Sobre a entrevistada: Janaína Spolidorio  é formada em Letras, com pós-graduação em consciência fonológica e tecnologias aplicadas à educação e MBA em Marketing Digital. Atua no segmento educacional há mais de 20 anos e, atualmente, desenvolve materiais pedagógicos digitais que complementam o ensino dos professores em sala de aula e atua como influenciadora digital na formação dos profissionais ligados à área de educação.